quinta-feira, 19 de junho de 2003

Folha de São Paulo


Lá pelos idos de 91, quando eu passava férias no Guarujá e ficava uns dias em Interlagos em São Paulo, vi na casa do meu primo um jornal que tinha muita coisa técnica dos assuntos que abordava. Se falava de Marte no caderno de ciências, tinha mapa colorido.. distância... dados e curiosidades sobre o planeta. Se falasse de golfinhos a mesma coisa. Eu tinha 14 anos e começava a me interessar por jornais.
Tinha um caderno chamado Folhateen.. interessantíssimo, feito para adolescentes. Fiquei fã da Folha. Pedi para meu pai assinar.
A linha editorial dos Frias era dura, batia no Collor. Levaram o impeachment na palma da mão.
Depois de um tempo recebi até cartão de crédito Visa da Folha/Bradesco, lançaram promoções de dicionários, coleções de livros de contos, melhores textos, o diabo... chegaram à tiragem de 1 milhão. O jornal mais vendido do hemisfério sul.
A qualidade foi caindo... caindo... e surpresa; fizeram um jornal em conjunto com os Marinho. Valor Econômico.
O tempo foi passando e no governo Fernando Henrique o editorial pipocou. Melhor, tucanou!
Deixei de assinar a Folha. Comecei a assinar um daqui mesmo, local e oligárquico, provinciano. Fui acostumando com ele, e vi que era importante ter notícias de um folhetim que contasse as fofocas do terreiro, política local.. economia local. Tudo o que fosse relacionado de fora, era matéria comprada de outras agências de informação. O Estado de Minas não era tão mal quanto pensei.
Ontem me deparei com uma edição da Folha na sala. Abri e ainda eram as mesmas pessoas que escreviam as colunas da página 2. Clóvis Rossi, Fernando Rodrigues e o eterno comunista Heitor Cony. Juro que antes eles tinham personalidade. Cada um escrevia de um jeito. Cony nunca falava da matéria do dia, ou se falava, fazia-o de maneira indireta. Sempre contava uma coisa independente do assunto em voga. Fugia à regra. Contava casos do seu pai.. do sapato marrom, da Lagoa Rodrigo de Freitas ou de Getúlio. Fernando Rodrigues era investigativo.. fuçava os meandros do poder em Brasília, era responsável por matérias bombásticas e Clóvis Rossi era o analista econômico, responsável por boa barte do editorial do jornal. Hoje se você mudasse a assinatura da coluna dos 3, ninguém perceberia. São iguais. Pode colocar o Clóvis Rossi assinando texto do Rodrigues e este do Cony. Daria igual. Foi-me o que pareceu, afinal tinha uns 5 anos que não lia a Folha. Mas eles ainda têm Gilberto Dimenstein, que era a luz no fim do túnel em se falando de matéria social, e Glauco, o melhor cartunista que já houve. Este último não mudou nada. Excelente!
Tirando esse detalhe, que deve ser uma forma padronizada de texto imposto(assim como a entonação igual de todos os jornalistas da Globo, mesmo estando em Brasília ou no Amapá), percebi como a Folha ainda é superior ao Estado de Minas. Muito superior... Mesmo tucanada.


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